terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

As Quartinhas de Barro

As Quartinhas de Barro - E para que servem!!!


As denominadas "quartinhas de barro" estão presentes em todo o culto africano, nas mais diversas formas em que este se apresenta e acompanham todos os assentamentos de Òrìsà.

Devem ser feitas de barro natural (amò) e em seu interior é colocada água (omi). A água colocada em seu interior transpira e evapora, necessitando assim de um abastecimento constante.

As águas (omi), e o barro primordial (amò), são os elementos utilizados por Òsàlá para moldar o ser humano, para que, após fisicamente moldado, Olódùmarè lhe insufle o Emí, princípio vital representado pela respiração, gerando assim a vida.

As quartinhas então representam vida e criação, elementos sem os quais não existe Òrìsà, tampouco àse.

Sua natureza sempre mutável, precisando constantemente de abastecimento, nos lembra que a vida sempre está em movimento, sendo necessária a renovação contínua e periódica do àse (energia dinâmica em movimento), tanto individual quanto coletivo, princípio este que permeia todo o culto a Òrìsà.

As Pinturas

A IMPORTÂNCIA DAS PINTURAS


Três elementos são utilizados nas casas de Candomblé, para diversas finalidades e são essenciais pela ação de proteção que exercem: Osun, Efun e Waji.

Osun e Waji são elementos vegetais e Efun é mineral. Todos são transformados em pó para preparar pintura, principalmente, a pintura do ori de iyawos, ou seja, das pessoas que se iniciam no Candomblé.

Osun, Efun e Waji se
rvem aí para proteção da cabeça do iyawo, contra os efeitos negativos das ajé da sociedade das iyami. Isso porque, os pássaros enviados pelas ajé costumam pousar com as asas abertas sobre as cabeças das pessoas. Quando isso acontece, todo o mal fica nessas pessoas. Daí o procedimento de se pintar o iyawo.

Outra forma de se proteger das yamin é passar a mão constantemente pela cabeça, no intuito de impedir o pouso dos pássaros maus e que são denominados de eleye.

Portanto, vale ressaltar a importância da pintura de iyawo com esses elementos Osun, Efun e Waji, pois os mesmos neutralizam a cólera das yamins.

O RITUAL DO IPADÊ


O RITUAL DO IPADÊ

O ritual do Ipadê é praticado desde os primórdios pelo povo de Ketu. Por isso, com a constituição do Candomblé aqui no Brasil, este preceito não foi reproduzido nas Casas de origem Jêje.  É bom esclarecer desde logo que o ritual do Ipadê, e o padê de Exu são duas coisas diferentes. O Ipadê é um fundamento da Religião direcionado para saudar os ancestrais; e o padê, é uma comida de Exu.
“Despachar Exu”, como se diz usualmente, também não se confunde com o Ipadê. O ato de despachar Exu, na verdade, atende ao princípio de que esta Divindade deve ser a primeira a ser agradada. Assim, antes do início do Xirê, ou mesmo antes dos demais Orixás serem reverenciados, Exu deve ser o primeiro a receber seus agrados, caso contrário, os praticantes podem ser punidos com as artimanhas dele.  Feitas as distinções necessárias, vamos então falar diretamente sobre o Ipadê.
Esse ritual é necessário em 3 situações: quando são sacrificados animais de 4 patas para Exu; nas Águas de Oxalá e no axexê. O Ipadê só é realizado durante o dia, pois necessita da claridade natural. Portanto, seu melhor horário gira em torno de 14 às 16hs. Só é feito à noite, durante o axexê. No Ipadê, são reverenciados Exu (o mensageiro), os ancestrais masculinos (eguns), femininos (iyá mi), os esás (ancestrais importantes daquele Egbé) e alguns Orixás (conforme a tradição de cada Axé).
Os elementos necessários ao Ipadê são: uma cuia feita de cabaça (representando a cabeça de todos), a acaçá (simbolizando o corpo da comunidade), a cachaça (oti), omi (a água, capaz de acalmar e fertilizar), a farinha de mesa crua (iyefún, significando a fecundidade) e finalmente o dendê ou o limo da costa (conforme o caso).
Este ritual é essencialmente comandado pelas mulheres. No caso, a iyadagán e a iyámorô. A primeira prepara os ingredientes, sentada em frente ao Axé, enquanto a segunda dança em volta da cumeeira e despacha os elementos, acompanhada pelos Ogãns que batem os atabaques e cantam as músicas especiais para esse momento. Tais músicas e rezas não são executadas em nenhum outro ritual, muito menos no xirê.
Quando o Ipadê é realizado nos trabalhos fúnebres de axexê, não são usados os atabaques, mas instrumentos especiais feitos de cabaça.  Todos aqueles que participarem do Ipadê devem ter as cabeças cobertas. Os mais velhos, ficam sentados, e os mais novos, ajoelhados em esteiras, debruçados sobre os apotis. Ninguém fica parado durante o Ipadê, todos devem balançar levemente o corpo, demonstrando que enfrentam vivos aqueles rituais.
A sequência das músicas é repetida durante o preparo e despacho das oferendas, sempre por três vezes. A ordem de reverência é: Exu, egun, esás (alguns fundadores dos primeiros Candomblés, como Obitikô, Oburô, Akesan, Adiro, Ajadi e Akayiodê); os Orixás afinizados (Exu, Ogum, Odé, Omolu, Oxum, Oya, Yemonja, Xangô, Lufã e Guiã); as iyá mi oxorongá e finalmente os próprios membros da comunidade participantes. É um ritual lindíssimo, mas que requer atenção total, meticulosa concentração e extremo respeito, pena que o Ipadê esteja sendo renegado ao esquecimento, o requinte desse preceito litúrgico exige que o egbé (a comunidade) possua elementos com tempo de Santo e preparo suficiente para esse ofício. Em muitas Casas, os iyawôs não podem estar presentes na cerimônia do Ipadê.
A riqueza dessa tradição, antes de tudo, nos indica um ensinamento básico da matriz africana: respeito aos mais velhos e reverenciar os mais velhos (ancestrais masculinos e femininos) consiste nisso! Agradecer, agradar, ofertar àqueles que vieram antes de nós e que, por isso, construíram parte do caminho que hoje seguimos. Devemos a eles! Pedimos então sua proteção, sua licença para trabalhar.
O respeito aos mais velhos é tudo. É a razão de acatarmos a ordem hierárquica, o motivo de aprendermos a obedecer, nos talhando para posteriormente sabermos mandar. Respeitar os mais velhos é aprendermos com a sabedoria e com a experiência dos que viveram mais do que nós. É também a garantia de que no futuro seremos nós próprios respeitados e prestigiados com carinho e solidariedade.
O Ipadê é um pouco disso tudo.

Contra-Egum


CONTRA EGUN | CONTREGUM


Dentro de todos os rituais do candomblé ele está presente e sua importância é imensa nos preceitos. Mas, o que é contra egum?
É um utilitário trançado a partir da palha da costa.



Segundo os mais antigos, ele pertence a Obaluayê e serve para afastar espíritos desencarnados da pessoa que está passando pela obrigação. É de grande significado, pois com suas rezas e posteriormente com sua imantação através de determinados banhos, ele não permite de forma alguma que espíritos de mortos se aproximem de quem os está usando.

Devemos utilizar os contra eguns mesmo depois de nossos preceitos cumpridos e, sempre que formos a algum lugar infestados de energias negativas (Ex: Cemitérios, hospitais, presídios, ou qualquer lugar que vc sinta a necessidade.)

Algumas pessoas alegam que contra egum pode ser utilizado nos braços, nas pernas ou na cintura, mas isso é um erro. O contra egum somente é utilizado nos braços, o que se usa nas pernas tem outro nome, assim como o que se usa na cintura.

Nas pernas usamos o OPACHORÔ que também pertence a Obaluayê e nesse utiliza-se um guizo preso, pois seu barulho espanta os eguns. Já na cintura usa-se o cordão umbilical (umbigueira) que representa a ligação direta do iniciado com seu Orixá.

É importante lembrarmos que ao usarmos os contra eguns nem mesmo Caboclos, Pretos Velhos ou outra entidade qualquer se aproxima de nós, muito menos se incorporam, pois apesar de serem espíritos iluminados, tbm são eguns.

Egun é o nome dado à todo espirito que passou pela carne, sendo iluminado ou não. Mas na minha concepção, é claro que o ato de se usar "contregun" é extremamente eficiente e direcionado para espíritos nefastos, com um gráu espiritual igual ou abaixo do nosso. Pois eu não creio que o contregum por mais imantado e rezado que seja impediria qualquer espírito de gráu elevado a incorporar em um médium e fazer o bem caso haja uma forte necessidade.


Acaça

ÀKÀSÀ, ACAÇÁ OU EKÓ: SEU SIGNIFICADO:


As definições mais elementares do acaçá, dizem que se trata de uma pasta de milho branco ralado ou moído, envolvida ainda quente, em folha de bananeiras. A definição é correta, mas extremamente superficial, já que o acaçá é de longe a comida mais importante do candomblé. Seu preparo e forma de utilização nos rituais de oferendas envolvem preceitos e bem rígid
os, que nunca podem deixar de ser observados. Todos os Orixás, de Exú à Oxalá, recebem acaçá. Todas as cerimonias, do ebó mais simples aos sacrifícios de animais, levam acaçá. Em rituais de iniciação, de passagem, em tudo mais que ocorra em uma casa de candomblé, só acontece com apresença de acaçá. A pasta branca à base de milho branco, chama-se eco (èko), depois de envolvida na folha de bananeira, aí sim, será acaçá. O acaçá, é um corpo, símbolo de um ser. A única oferenda que restitui e redistribui o axé. O acaçá remete ao maior significado que a vida pode ter: a própria vida; e por ser o grande elemento apaziguador, que arranca a morte, a doença, a pobreza e outras mazelas do seio da vida, tornou-e a comida e predileção de todos os Orixás. Nem todas as palavras do mundo são suficientes para decifrar o valor de um acaçá. Basta admitir que os segredos estão nas coisas mais simples para ver que muitos julgaram insignificantes, a comida mais importante do candomblé, banalizando o sagrado e privilegiando a intuição em deterimento do fundamento. Fato é que quem não faz um bom acaçá, não pode ser considerado um bom conhecedor de candomblé; pois, as regras e diretrizes da religião dos Orixás nunca foram ditadas pela intuição. Constituem grandes fundamentos "cristalizados" ao longo de anos e anos de tradição. Aos incautos vale afirmar que candomblé não é intuição, mas, fundamento sim, e fundamento se aprende. Fundamento é o segredo compartilhado, o mistério sagrado, o detalhe que faz a diferença e a prova de que ninguém pode enganar o Orixá. Aqui o grande fundamento é que o sangue dos animais jamais pode jorrar sobre os ibás sem a presença do elemento pacificador, pois, o acaçá simboliza a paz. Quando ofertado e retirado do seu invólucro verde, tornando-se a comida de Oxalá que agrada a todos os orixás, a primeira oferenda que deve ser colocada diretamente no assentamento, juntamente com o obi e a água, antes de qualquer sacrifício. O acaçá deve permanecer fechado, imaculado até o momento de ser entregue ao Orixá, só então é retirado da folha. É como se o sagrado tivesse que ficar oculto até a hora da oferenda, prova de que o segredo é quase sempre um elemento consagrado. E o segredo do acaçá é enrolar o ekó na folha de bananeira, é o que mantém um terreiro de candomblé, de pé.

"NÃO EXISTE ACAÇÁ QUE NÃO SEJA ENROLADO NA FOLHA DE BANANEIRA!"