sexta-feira, 13 de julho de 2012

Águas do Osalá


ÁGUAS DE OSALA(OXALÁ)
O ciclo anual das cerimônias, que envolvem os rituais de origem africanista, encontra nas Águas de Osala fator máximo de importância por dois motivos: inicia as atividades religiosas e prepara essas atividades através da purificação.

É preciso observar inicialmente que o ano religioso africano não se identifica com o nosso ano legal. Não vai de 1o de janeiro a 31 de dezembro. Ele é baseado tomando como ponto de referência as estações climáticas: primavera, verão, outono e inverno, que determinam as datas das cerimônias. Por obra do sincretismo religioso, as datas festivas dos santos católicos passaram a servir como referência. Isto em alguns Candomblés, porque nos mais tradicionais, por exemplo, no Engenho Velho, é realizada na última sexta-feira de agosto e no Asé Opó Afonjá, na última sexta-feira de setembro. Entendemos assim que as Águas de Oxalá é feita em época próxima a entrada da primavera (22 de setembro).

A finalidade principal deste rito é preparar a casa para as demais atividades do ano religioso e também purificar todo o egbé.

Este ritual divide-se em 03 (três) partes distintas: Águas de Oxalá, Procissão de Osalufan e o Pilão de Osaguian, todas explicadas no seguinte mito:

Osalufan devia ir na terra de Kùsó visitar seu filho Xangô. Antes, porém, consultou primeiramente Ifá para saber se tudo correria bem durante a viagem. Odù saiu Ejionilé. Mesmo assim, Osalufan insistiu em ir. Devido a isto foi aconselhado a não negar nada a ninguém o que fosse pedido e mais ainda que levasse consigo sabão da costa, obí e três roupas brancas.

Seguindo caminho, encontrou por 03 (três) vezes Exu: Exu Elepo, Exu Idu e Exu Adi que lhe pediu sucessivamente para ajudá-lo a carregar na cabeça uma barriga de azeite de dendê, uma carga de carvão e outra de óleo de amêndoas ou xoxo. As três vezes Exu derramou o conteúdo sobre Osalufan. Mas este sem se queixar, lavou-se e trocou as três mudas de roupas e continuou a viagem. Osalufan havia dado de presente a Xangô um cavalo branco, o qual havia desaparecido do reinado fazia bastante tempo. Os escravos de Xangô andavam por toda parte para encontrá-lo e eis que Osalufan passando por um mineral, apanhou algumas espigas de milho e ao mesmo tempo deparou-se com o cavalo perdido de Xangô. O cavalo também reconheceu Osalufan e lhe acompanhou. Nesse instante, chegaram os escravos de Xangô, gritando: Olé Esim Oba, que quer dizer "ladrão do cavalo do rei". Não reconhecendo Osalufan, deram-lhe vários golpes e em seguida jogaram-no na prisão. Osalufan permaneceu 07 (sete) anos preso. Enquanto isso no Reino de Xangô tudo corria mal. Xangô preocupado consultou um Babalawo. Este revelou o motivo daquilo tudo. Disse o Babalawo a Xangô: "Algum inocente paga injustamente em tuas prisões". Xangô, então, ordenou que os prisioneiros comparecessem diante dele e reconheceu seu pai. Enviou então os escravos vestidos de branco até uma fonte vizinha para lavar Osalufan, sem falar uma palavra, em sinal de tristeza. Depois, Xangô, em sinal de humildade, carregou Osalufan nas costas de volta até o Palácio de Osaguian. Osaguian, muito alegre com o regresso de Osalufan, ofereceu um grande banquete.

Esse mito mostra todo o caminho seguido no ritual Águas de Oxalá.

Orixa Iroko


Iroko (Chlorophora excelsa) - Árvore africana, também conhecido como Rôco, Irôco, é um orixá, cultuado no candomblé do Brasil pela nação Ketu e, como Loko, pela nação Jeje. Corresponderia ao Nkisi Tempo na Angola/Congo.

No Brasil, Iroko é considerado um orixá e tratado como tal, principalmente nas casas tradicionais de nação ketu. É tido como orixá raro, ou seja, possui poucos filhos e raramente se vê Irôko manifestado. Para alguns, possui fortes ligações com os orixá chamados Iji, de origem daomeana: Nanã, Obaluaiyê, Oxumarê. Para outros, está estreitamente ligado a Xangô. Seja num caso ou noutro, o culto a Irôko é cercado de cuidados, mistérios e muitas histórias.

No Brasil, Iroko habita principalmente a gameleira branca, cujo nome científico é ficus religiosa. Na África, sua morada é a árvore iroko, nome científico chlorophora excelsa, que, por alguma razão, não existia no Brasil e, ao que parece, também não foi para cá transplantada.

Para o povo yorubá, Iroko é uma de suas quatro árvores sagradas normalmente cultuadas em todas as regiões que ainda praticam a religião dos orixás. No entanto, originalmente, Iroko não é considerado um orixá que possa ser "feito" na cabeça de ninguém.

Para os yorubás, a árvore Iroko é a morada de espíritos infantis conhecidos ritualmente como "abiku" e tais espíritos são liderados por Oluwere. Quando as crianças se vêem perseguidas por sonhos ou qualquer tipo de assombração, é normal que se faça oferendas a Oluwere aos pés de Iroko, para afastar o perigo de que os espíritos abiku levem embora as crianças da aldeia. Durante sete dias e sete noites o ritual é repetido, até que o perigo de mortes infantis seja afastado.

O culto a Iroko é um dos mais populares na terra yorubá e as relações com esta divindade quase sempre se baseiam na troca: um pedido feito, quando atendido, sempre deve ser pago pois não se deve correr o risco de desagradar Iroko, pois ele costuma perseguir aqueles que lhe devem.

Iroko está ligado à longevidade, à durabilidade das coisas e ao passar do tempo pois é árvore que pode viver por mais de 200 anos.

Lenda de Iroko

QUEM PROMETE A IROCO DEVE CUMPRIR.

Havia uma vendedora de obis e orobôs que todos os dias, ao ir para o
mercado, passava por um grande pé de iroco e lhe deixava uma oferenda, pedindo que ajudasse a engravidar, assim mais tarde, teria alguém para ajudá-la com a mercadoria que carregava na cabeça num pesado balaio e, também companhia na velhice.
Prometia a Iroco um bode, galos, obis, orobos e uma série de oferendas da predileção do Orixá da Arvore.
A mulher concebeu e deu a luz a uma filha, esquecendo-se da promessa no mesmo instante. Ao ir para o mercado, escolhia outro caminho, esquivando-se de passar perto de Iroco, com medo que o Orixá cobrasse a promessa.
A menina cresceu, forte e sadia e, um dia a mulher teve necessidade de
passar, com a filha, perto de Iroco.
Não tinha outro jeito se não por ali. Saudou a arvore, sem se deter, e
seguiu seu caminho, com o balaio na cabeça.
A criança parou junto a quem lhe tinha dado a vida (sem de nada saber), achando Iroco belo e majestoso.
Apanhou uma folha caída no chão e não se deu conta que a mãe seguia em frente, andando mais depressa que de costume, quase correndo. Quando a mulher percebeu que tinha caminhado ligeiro demais, já estava muito afastada da menina.
Olhando para trás. Viu a arvore bailando com a criança e falando da promessa abandonada. As enormes raízes abriram um buraco na terra, suficientemente grande para tragar a menina, propriedade do orixá.
"Quem prometer, que cumpra".

Orixa Otín

OTÌN 
Divindade da Caça, assemelha e confunde-se muito com Ode, mas trata-se de caçadorestotalmente distintos um do outro. Unidos como se fossem único, são os protetores das matase dos animais silvestres e selvagens. Nasceu da concepção de Erinlè o pai e Àbatà , OxumYpondá sua mãe.Otìn usa capanga e lança e vive na floresta a margem dos rios. Come toda espécie de caçaassim como Ode, mas o que aprecia mesmo, são todas as espécies de porco-do-mato.Otìn é uma Iyagba que possui três mamilos. Um mito nos revela que ao se casar com Ode seuprimeiro e único marido, na núpcias pede para que ele faça um juramento de nunca revelar aninguém esta sua anormalidade. As esposas de Ode enciumadas, e desconfiadas de que há umsegredo entre os dois, embriagam-no e ele acaba por contar o segredo de Otìn. Humilhadapelas esposas Otìn foge apavorada da cidade e se refugia no fundo do rio com sua família.Traída pela confiança que teve em seu marido, nunca mais se envolveu com nenhuma outradivindade.Em alguns mitos esta divindade é mencionada como homem, talvez pelo fato desta secomportar como tal, pois sabemos que na Cultura Yoruba à mulher esta vedada a arte da caçae da guerra, inclusive esta não pode tocar as instrumentos de caça, colocando em risco asucesso e prestigio de um caçador. Em outras que sua beleza, compara-se com a de umamulher, caso semelhante ao de Logunede.Nos Terreiros de origem Ketu ou Nagô, Otìn esta acomodado no Agbo Ode e só pode sercultuada juntamente com Ode, pois não se sacrifica para um sem dar para o outro. Esta ligaçãoesta expressa em uma das linhas de seu Oriki...Ode o m'óta! (Ode você rende os inimigos)Otìn bò rò Ode (Otìn vem ajudar Òde)Os animais são os mesmos, mudando apenas o sexo, com exceção dos animais de caça, quesempre devem ser machos, pois esta proibido a um caçador que se honre, sacrificar umafêmea selvagem, esta irá garantir a caça futura. Suas comidas prediletas, são elaboradas apartir do feijão fradinho, milho verde, coco, inhame, cebola, camarão seco, raiz de gengibre eazeite-de-dendê.Os filhos de Otìn são quase inexistentes, raros e muitos deles são consagrados e iniciados àOde com Oro para Otìn. Vestidos em tons de azul e rosa, ornamentados com capangas,braceletes e uma lança em punho, usando um chapéu com uma das abas laterais dobrada emetade do rosto coberto por um fila, simbolo de realeza, esta magnífica Divindade se destaca ntre os outros caçadores. Dança sobre o som dos atabaques em ritmo do Àgèrè mas seuprincipal ritmo é o Bàtá,onde suas cantigas são entoadas


Mais uma lenda...


Oquê, rei da cidade de Otã, tinha uma filha. E...la nascera com 4 seios e era chamada de Oti. O rei Oquê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação. Este era o segredo de Oquê, este era o segredo de Oti. Quando Oti cresceu, o rei aconselho-a a nunca se casar, pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo. Oti ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai. Por muitos anos, Oti viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado. Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Oti, que insistiu em casar-se com ela. Oti recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém. O caçador concordou, e impôs também sua condição: Oti jamais deveria por mel de abelhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu euó Por muitos anos, Oti viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas. Um dia, reuniram-se e tramaram contra Oti. Era o dia de Oti cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador. Quando Oti deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida. Quando o caçador chegou em casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido. Furioso, bateu em Oti e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?”
A novidade espalhou-se pela cidade como fogo. Oti, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos. Oti, fugiu de casa e deixou a cidade do marido.
Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai. O velho rei a confortou, mas ele sabia que a notícia chegaria também a sua cidade. Em desespero, Oti fugiu para a floresta. Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Oti transformou-se num rio, e o rio correu para o mar. Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha. Lá ia o rio fugindo para o mar. Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Oti para o mar. Mas Oti contornou a montanha e seguiu seu curso.
Oquê, a montanha, e Oti, o rio, são cultuados até hoje em Otã.
Odé, o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.



O Azeite de Dendê

"Aprendendo sobre o uso do Dendê"

O Epo (dendê) por ser material muito utilizado nos sacrifícios possui quase todos os feitos que o Igbin, diminuindo ou suavizando tudo aquilo que é penoso e incontrolável, atuando com um agente que acalma a zanga ou irritabilidade tanto das pessoas como à dos Òrìsá, por isso é muito utilizado em rituais daqueles Òrìsá. Por isso, o Epo (o dendê limpinho) é muito utilizado em todos os rituais daqueles Òrìsá de características violenta como Ìyáàmi-Òsòróngà, todas as Ìyágbà, as Gèlèdèse Èsú, Ògún, Sòngó, Osaroko, Iroko, Ologondo, Ajigunwa, Òbàlúwàiyé, Òrí etc. etc. etc..

O dendê serve como substituto do sangue vermelho. Quando espargido sobre na terra junto com o Oyin (o mel puríssimo) num oferecimento aos Aye (espíritos elementais da terra) ou Aralé (ancestrais falecidos familiares), a sua finalidade é acalmá-los enquanto são invocados, impedindo que causem sofrimentos à alguém, se dispondo a socorrer qualquer pessoa sofrida/atormentada. Por todos os atributos suavizante do dendê, a sua utilização gera o equilíbrio, estabilidade e sensatez, então no momento em que utilizamos o Epo devemos cantar....

Assim, evidentemente que nenhum tipo de óleo convém ser utilizado em feitiços de malefícios, porque qualquer óleo, principalmente o Epo, tem função emoliente, suavizaste e neutralizador do mal, violência, agitação, desordens, atritos etc. Portanto, o que acontece é o inverso de queimar ou perturba, acaba neutralizando o mal. Ao contrario do que muitos imaginam, o Epo (óleo do dendê) é um elemento de propriedade tranquilizante totalmente emoliente, intensamente sedativo, apaziguador.

Epo èlèró
Asè epo niti éró fun mi, fun mi
Epo ni éró ni oju oloja (Èsù).

O dendê é proprietário propoiciador de calma.
O poder do dendê diz que acalmará tudo para mim.
O Epo acalma, e Seu o dono do mercado reconhece isso.

AYRÁ IGBÒNÀ

AYRÁ IGBÒNÀ

Representante Real do Fogo, elemento que domina com maestria e segurança, e de onde retira sua magnífica força invejada por muitos, os filhos deste Orisá atraem para sí a inveja alheia por serem altamente revestidos das características do Orisá do Fogo!
Igbònà é o Patrono da Fogueira no Culto de Orisá no Candomblé, ritual este que não encontramos em Oyó, mas faz parte desta Cultura convencionada Candomblé no Brasil, que por hábito e Costumes inseriu o elemento "Fogueira" para então fortalecer as características deste Orisá do Fogo !
Neste Ritosomente brasileiro, Igbònà dança no entorno da Fogueira com Oyá e os demais Orixás da Familia de Oyó ! Baiyání foi o Orisá tutor de Ayrá Igbònà.

Em certa feita, Baiyaní solicita a Igbònà que adentre o Reino dos Mortos e resgate a Coroa de que Agònjú havia tomado de Dadá Ajáká (Baiyaní)Ayrá Igbònà então consulta Orunmilá que o orienta a encontrar um Èdún Ará (Pedrs de Raio) e leva-la sob a sua lingua, e sobre uma folha chamada Ewè Inòn acomodar uma panela de Fogo também conhecida como Ajèrè Inòn, onde deveria conter a palha do ikín embebida de epó pupá e lascas de Mogno Africano também embebidos do mesmo azeite de dendê, no momento em que adentrasse o Reino dos Mortos Ayrá deveria sacar do seus bolsos os àsé chamado "Agùnsó" pequenas bolas de fogo que nada mais eram do que Luffa acutangula embebidas de epò pupá neste processo Ayrá as engolia, o que lhe facultava o poder de visão e o fez enxergar e encontrar o Adè Baiyaní !
Um dos Tabús deste Àsé é não deposita-la em nenhum lugar que não seja a cabeça de um Rei ou seu assento (Igbá), no que Ayrá então coloca em seu ori e leva até Dadá Ajáká (Baiyaní), lá entregando-o ele põe na cabeça e não suporta tamanho peso, que sub entendemos seria o peso da responsabilidade simbolicamente falando, e de pronto devolve a Ayrá Igbònà, que imediatamente coloca em seu Ori de volta, passando a partir daquele momento ser aclamado Rei de Kòsò pelos súditos de Dadá que de forma uníssona entoa para Ayrá:
"Ayrá inón Ayrá ,Ayrá inón Obá Kòsò Obá Kòsò araiyè Ayrá inòn Obá Kòsò araiyè Ayrá inòn."

O Humgebê

O Humgebê




O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje.

Ele representa o elo entre o orum e o aiye.

É o fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do mundo espiritual, invisível e transcendente.

O céu cósmico particularmente em suas relações com a terra.
Somente vodunsis recebem o humgebê.
Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o humgebê.
Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de nascer no mundo do santo.

Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha.

Ele nos liga ao orum, nos traz o orum e nos leva de volta ao orum.

Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente, algumas casas de Jeje darem o humgebê aos seus filhos somente na obrigação de sete anos.

Cabe aqui uma pergunta de uma velha Doné de Salvador ao relatarmos esse fato: - "Oxente!!!! Vocês no Rio só nascem aos sete anos?".
A preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui obrigações, currans, zandros, etc.

Há necessidade também, de alguns preceitos de humdemê.

O poder do humgebê ultrapassa a mente humana.

Ele sempre nos avisa quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no kwe.

A voz do humgebê está num grande segredo da nação Jeje.
Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser usado por outra pessoa ou tocado.
Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial para ser reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características rígidas.

Deve ter a quantidade certa de miçangas entre os corais e seu fechamento também é um só.
Não se fecha humgebê com contas na cor do santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés.

Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o seu significado sagrado.

A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao contrário que muitos pensam, não é fixa.

O comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da pessoa, devendo sempre estar um pouco abaixo do umbigo.

Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois seguis, um no fechamento e outro no meio, o que também é correto.

O humgebê é composto de contas, corais e segui.

O coral é a "árvore das águas", participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas profundas (origem do mundo).

Sua cor vermelha aparenta com o sangue.

Segundo uma lenda grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa.

O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos: animal, vegetal e mineral.

Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da cor vermelha.

Como símbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo entre a vida e a morte.

Sua cor vermelha é o símbolo universal do princípio de vida, com sua força, seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue.

Representa não a expressão, mas o mistério da vida e da morte.

Um lado seduz, encoraja, provoca; o outro lado alerta, detém, incita à vigilância.

Este é, com efeito, a ambivalência do vermelho do sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado significa a morte.

O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo até o infinito.

É também a cor mais imaterial e fria e, em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro.

O conjunto de suas aplicações simbólicas depende dessas qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as, desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna.

É o caminho do infinito, onde o real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.

O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que é sobre-humana.
É também a cor da verdade.

A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e é por isso que, a cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o governam, do Além, seu destino.

Há também um simbolismo de castração, imposição e de um longo sacrifício, um certo heroísmo, embutido no azul do segui.

Como podemos observar, há uma enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso Hungebê